Maquete da Cidadela, fazenda de servidores da empresa Switch com 670 mil metros quadrados projetados (Imagem: Switch/CH)

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‘Tsunami de dados’ pode usar um quinto da eletricidade global em 2025

Crescimento vertiginoso da internet e das fazendas gigantes de servidores ameaça metas climáticas globais e pode emitir mais carbono que navios e aviões em 2020

11.12.2017 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

JOHN VIDAL
DO CLIMATE HOME

A indústria das comunicações poderá usar 20% da eletricidade do mundo em 2025, atrapalhando os esforços globais para atingir as metas climáticas e estressando as redes elétricas à medida que fazendas de servidores famintas por energia crescem exponencialmente para armazenar dados de bilhões de smartphones, tablets e outros dispositivos conectados à internet.

A indústria digital alega há tempos que pode reduzir consideravelmente suas emissões de carbono ao aumentar a eficiência energética e reduzir o desperdício, mas pesquisadores têm questionado essas afirmações. Um novo estudo, que deve ser publicado neste mês por pesquisadores dos EUA, trará a previsão de que a indústria de TI pode ser responsável por 3,5% das emissões globais em 2020 – ultrapassando a aviação e a navegação – e até 14% em 2040, o mesmo que os EUA emitem hoje.

A demanda global por energia por parte de dispositivos conectados à internet, streaming de vídeo em alta resolução, câmeras de vigilância e uma nova geração de smart TVs está aumentando 20% ao ano, consumindo de 3% a 5% da eletricidade do planeta em 2015, disse o pesquisador sueco Anders Andrae.

Numa atualização de um estudo de 2016, Andrae concluiu que, sem um aumento dramático na eficiência, a indústria de TI poderia usar 20% da eletricidade e emitir 5,5% do carbono do mundo em 2025. Isso seria mais do que as emissões de qualquer país hoje, exceto EUA, China e Índia.

Ele espera que a demanda por eletricidade do setor cresça de 300 terawatts-hora (Twh) por ano para 1.200 ou 3.000 em 2025. Os data centers poderiam gerar sozinhos 1.9 bilhão de toneladas de emissões, ou 3,2% do total global, ele afirma.

“A situação é alarmante”, disse Andrae, que trabalha para a empresa chinesa de TI Huawei. “Nós temos um tsunami de dados se aproximando. Tudo que pode ser digitalizado está sendo. É uma tempestade perfeita: o 5G [a quinta geração da tecnologia móvel] está chegando, o tráfego de IP está muito mais alto do que o esperado e todos os carros e máquinas, os robôs e a inteligência artificial, estão sendo digitalizados, produzindo quantidades imensas de dados, que são armazenados nos data centers.”

Pesquisadores dos EUA esperam que o consumo de energia triplique nos próximos cinco anos, à medida que 1 bilhão de pessoas comecem a usar a internet nos países em desenvolvimento, e que a “internet das coisas”, os carros sem motorista, a vigilância em vídeo e a inteligência artificial cresçam exponencialmente nos países ricos.

“Haverá 8,4 bilhões de coisas conectadas em 2017, preparando o terreno para 20 bilhões de dispositivos da internet das coisas em 2020”, afirma a Gartner, empresa de análises da internet.

A indústria tem esposado a ideia de que a transformação digital da economia e ganhos de eficiência energética em grande escala reduzirão as emissões globais de CO2 em 20% ou mais, mas a escala e a velocidade da revolução digital têm sido uma surpresa.

O tráfego global de internet crescerá quase três vezes nos próximos cinco anos, segundo o último relatório de uso da internet da Cisco. “Mais de 1 bilhão de novos usuários são esperados, crescendo de 3 bilhões em 2015 para 4,1 bilhões em 2020. Nos próximos cinco anos, as redes globais de IP terão até 10 bilhões de novos dispositivos e conexões, crescendo de 16,3 bilhões em 2015 para 26 bilhões em 2020”, afirma a Cisco.

Um estudo de 2016 do Laboratório Berkeley, do governo americano, estimou que os centros de dados do país, que estocavam 350 milhões de terabytes em 2015, poderiam precisar de mais de 100 Twh de eletricidade por ano em 2020. Isso é o equivalente a dez usinas nucleares de grande porte.

A capacidade dos data centers também está crescendo aceleradamente na Europa e na Ásia. Paris, Londres, Frankfurt e Amsterdã devem aumentar seu consumo em 200 MW em 2017, o equivalente a uma usina de energia média.

“Nós estamos assistindo a um crescimento maciço nos data centers em todas as regiões. A tendência que começou nos EUA é o padrão hoje na Europa. A Ásia está decolando maciçamente”, diz Mitual Patel, da firma de investimentos CBRE.

“O volume de dados sendo processados por esses centros está crescendo numa escala sem precedentes. Eles são vistos como um elemento-chave na próxima fase de crescimento da indústria de TI”, diz Peter Corcoran, pesquisador da Universidade da Irlanda em Galway.

A Irlanda, que juntamente com a Dinamarca está se tornando base de dados para algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, tem 350 MW conectados a data centers, mas isso deve triplicar nos próximos cinco anos.

O país já deu autorização para a ligação de mais 550 MW e outros 750 MW estão no pipeline, diz a Eirgrid, principal operadora de redes elétricas do país.

Se todas as solicitações foram conectadas, a carga dos data centers poderia atingir 20% da demanda de pico da Irlanda”, afirma um relatório da Eirgrid.

Os dados serão armazenados em fazendas de servidores de “hiperescala” que as empresas estão construindo. Um único data center planejado pela Apple deve usar 300 MW de eletricidade, ou mais de 8% da capacidade nacional irlandesa e mais do que todo o uso diário de energia de Dublin. Essa fazenda de servidores, movida a energia eólica, vai demandar 144 geradores a diesel de grande porte para períodos sem vento.

Pressionadas pelo Greenpeace e outros grupos ambientalistas, as grandes empresas de tecnologia, como Google, Facebook, Apple, Intel e Amazon prometeram usar apenas energia renovável em seus data centers. Na maioria das vezes elas compram da rede, mas algumas planejam construir plantas eólicas e solares perto dos conjuntos de servidores.

Gary Cook, analista de TI do Greenpeace, diz que hoje apenas 20% da eletricidade usada nos data centers mundo afora é renovável. “A boa notícia é que algumas empresas certamente abraçaram sua responsabilidade e estão se mexendo de maneira bastante agressiva para atingir suas metas de rápido crescimento com energias renováveis. Outras estão apenas crescendo agressivamente”, diz.

No melhor cenário, afirma Andrae, haverá um aprimoramento maciço da economia de energia, as energias renováveis se tornarão a norma e o crescimento da demanda por dados vai desacelerar.

Por outro lado, afirma, a demanda pode continuar aumentando dramaticamente caso a indústria continue a crescer 20% ao ano e caso os carros sem motorista com dezenas de sensores e criptomoedas como a Bitcoin – que demanda enorme poder de computação – se tornem a norma.

“Há um risco real de que tudo saia de controle. Os formuladores de políticas públicas precisam ficar de olho nisso”, diz Andrae.

Esta reportagem foi publicada originalmente no site Climate Home e é reproduzida pelo OC por meio de um acordo de conteúdo.

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