Sociedade civil pede mais ambição e seriedade nas negociações em clima
Marcha reúne pelo menos três mil pessoas nas ruas de Varsóvia. Esquema de segurança impede manifestantes de chegarem perto do Estádio Nacional.
Marcha reúne pelo menos três mil pessoas nas ruas de Varsóvia. Esquema de segurança impede manifestantes de chegarem perto do Estádio Nacional.
O frio intenso que fez em Varsóvia não impediu que cerca de três mil pessoas se reunissem no último sábado em frente ao famoso Palácio da Cultura e Ciência, na região central da capital polonesa, para protestar contra as mudanças climáticas e contra o processo de negociação internacional que está sendo conduzido na cidade durante a COP 19. Diversas organizações da sociedade civil, desde grupos ambientalistas e da juventude até movimentos políticos e apartidários, se mobilizaram para marchar sobre as ruas de Varsóvia, também numa tentativa de incentivar a população local a participar das discussões sobre mudanças climáticas.
Os manifestantes concentraram suas críticas na condução das negociações climáticas internacionais. Para boa parte desses grupos, a Conferência de Varsóvia tem sido motivo de frustração, principalmente pela falta de ambição que diversas delegações importantes mostraram nessa primeira semana, e pela incapacidade ou falta de vontade política do governo polonês em liderar as conversas em torno de uma agenda construtiva e efetiva. Assim, “ação” foi uma palavra de ordem frequente em diversos discursos, cartazes e manifestações durante a marcha. Os manifestantes também se lembraram das vítimas do tufão Hayan nas Filipinas e dos 28 militantes do Greenpeace detidos na Rússia há quase dois meses. Confira em nossa página no Facebook um álbum com imagens da marcha em Varsóvia.
Um aspecto que chamou a atenção foi o grande esquema de segurança que acompanhou os manifestantes entre os quatro quilômetros que separam o Palácio e o Estádio Nacional, palco das negociações da COP 19. Na última segunda, quando a COP 19 começou, Varsóvia foi palco de violentos protestos devido ao feriado nacional de independência. A marcha deste sábado foi pacífica, mas o esquema de segurança acabou atrapalhando os manifestantes: o grupo ficou muito tempo parado sobre a ponte Poniatowskiego, e quando chegou aos arredores do Estádio Nacional, a marcha passou rapidamente e logo se distanciou. Dentro do Estádio, pouco se ouviu dos manifestantes que passaram rapidamente do lado de fora. Os manifestantes concluíram a marcha em um parque próximo à sede da COP 19, aonde as organizações fizeram suas reivindicações e discursos.
A marcha deste sábado chama a atenção para uma dificuldade que a sociedade civil está enfrentando desde a traumática COP 15, em 2009, na cidade de Copenhague: cada vez mais os esquemas de segurança procuram isolar o local aonde acontecem as negociações, o que esvazia um pouco o objetivo das manifestações da sociedade civil. Mesmo dentro do Estádio Nacional, a tolerância aos protestos está menor nessa COP: um grupo de jovens credenciados foi expulso nessa primeira semana por protestar em favor do diplomata filipino Yeb Saño, que está fazendo greve de fome durante a Conferência para pressionar os negociadores nas discussões sobre o fundo de reabilitação e adaptação para países em desenvolvimento atingidos pelas mudanças climáticas. A reação dos organizadores foi considerada despropositada por diversas organizações presentes na COP 19, o que coloca ainda mais acidez na relação entre a sociedade civil internacional e os anfitriões poloneses no Estádio Nacional.
Outro aspecto que a marcha deixou evidente é a falta de capilaridade do tema das mudanças climáticas e da COP 19 no cotidiano da população de Varsóvia. Entre os moradores da capital polonesa, a Conferência continua sendo uma incógnita, e o esquema de segurança montado em torno do Estádio Nacional dificulta uma interação maior entre a população de Varsóvia. Entre os moradores da capital polonesa, a Conferência continua sendo uma incógnita, e o esquema de segurança montado em torno do Estádio Nacional dificulta uma interação maior entre a população local e os participantes da COP. Durante a marcha, a presença de cidadãos locais foi muito pequena, e a mobilização não foi capaz de chamar muita atenção na vida cotidiana da cidade. Essa falta de reação é grave, principalmente por causa da postura pouco ativa do governo polonês nas negociações de clima em geral e nesta COP 19 em particular.
Mas esta segunda semana de COP promete mais mobilizações em Varsóvia, especialmente durante o Segmento Ministerial, quando os ministros de Estado chegam ao Estádio Nacional para fechar o processo de negociação. Pela delegação brasileira, espera-se a vinda da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e do ministro de Relações Exteriores e ex-chefe da delegação brasileira em negociações de clima, Luiz Alberto Figueiredo.
Fotos: Bruno Toledo/OC