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Por que fechar a torneira e apagar a luz podem ser péssimos para o clima

Pesquisadores descobrem que indivíduos que realizam boas ações ambientais dentro de casa são os menos propensos a aderir a políticas públicas de combate às mudanças climáticas

13.06.2017 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

LUCIANA VICÁRIA

DO OC

Pesquisadores tentando compreender como as pessoas se comportam diante da crise climática acabam de chegar a uma conclusão importante e pra lá de inconveniente: famílias estimuladas a apresentar boas ações individuais pelo clima, como comer menos carne, apagar as luzes ou fechar a torneira, são também as menos propensas a apoiar ações governamentais, como a cobrança de taxas pela emissão de carbono.

Após comparar a proatividade climática de cidadãos japoneses e americanos, um estudo publicado ontem (12) no periódico Nature Climate Change concluiu que os cidadãos dos dois países têm comportamentos muito semelhantes, especialmente quando cobrados sobre suas ações de sustentabilidade em casa. De acordo com o especialista em comportamento político e autor da pesquisa, Seth H. Werfel, da Universidade Stanford, trata-se de uma mistura de relaxamento com sensação de dever individual cumprido. “Imagine aquela pessoa que passou horas na academia com um professor cobrando esforço e dedicação. Ela chega ao fim do dia e sente que pode tomar sua cervejinha sem culpa alguma”, diz.

Algo parecido aconteceu com parte dos 14 mil cidadãos japoneses afetados pelo desligamento da usina nuclear de Fukushima, após o megaterremoto de 2011. Para evitar um apagão, todos os entrevistados receberam orientações sobre como economizar água e energia, mas um grupo específico de famílias recebeu cobranças incisivas sobre suas práticas e feedbacks periódiocos sobre seu consumo de água e energia. O monitoramento constante permitiu que evoluíssem mais que o grupo orientado apenas uma vez e, em pouco tempo, se tornaram os campeões em economia de água e energia.

Mas de alguma forma esta cobrança surtiu efeito contrário quando o assunto foi o engajamento político. Os cidadãos mais ativos ambientalmente foram também os menos engajados em causas governamentais. Quando perguntados se estariam dispostos a apoiar o debate público sobre o tema, incluindo o aumento de impostos relacionados à emissão de gases de efeito estufa, revelaram um engajamento de 12% a 14% menor do que o do grupo menos estimulado a colaborar.

Uma análise do comportamento dos entrevistados revelou três formas de compreender o que os cientistas chamam de teoria da exclusão. A primeira delas nos remete à máxima do “já fiz a minha parte, quem não fez que se mobilize”. Os cidadãos que se comportam seguindo esta lógica justificam que o engajamento familiar já exigiu tantos esforços que mobilizar novamente os familiares em uma ação pública de mitigação seria, na verdade, um exagero.

A segunda revela que a cobrança pelo esforço individual gerou uma falta de confiança na coletividade. Os resultados positivos dentro de casa criaram a falsa sensação de que as ações políticas teriam um efeito infinitamente menor para o meio ambiente e, por isso, não seria conveniente apoiá-las.

Uma terceira linha de raciocínio, igualmente perigosa, mostra que o efeito de aportar o indivíduo os fez concluir que não haveria muito mais a fazer pela sustentabilidade ambiental, uma vez que todo o progresso já teria sido feito. Logo, apoiar políticas de mitigação seria mais do que um excesso, uma atitude desnecessária e sem efeito.

“Temos de trabalhar para que as pessoas entendam que o comportamento doméstico e o apoio político são ações complementares, não excludentes”, disse Werfel. Segundo ele, o maior mérito de seu estudo é alertar para o cuidado na construção de um discurso coletivo quando o assunto são as mudanças climáticas, para que o resultado não seja o oposto do esperado. “Infelizmente todo esforço que fizermos não será o bastante para evitar os danos causados pela emissão excessiva de gases de efeito estufa”.

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