Ocupação urbana ao redor do reservatório do Descoberto, no DF, subiu 336% em 16 anos
Análise ecoa em discussões do 8º Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília
A precipitação registrada no período 2014/2015 foi de 1.604 mm. No ano seguinte, ele caiu para apenas 1.134 mm e, em 2016/2017, ficou em 1.028 mm. Com isso, o espelho d’água do Descoberto, que ocupava uma área média de 1.221 ha entre 2000 e 2015, ficou com apenas 773,2 ha no período 2016/2017. Os dados foram coletados na plataforma Mapbiomas (www.mapbiomas.org), sistema de monitoramento dos biomas brasileiros independente e aberto ao público.
“A falta de chuva que o Distrito Federal sofreu foi extraordinária entre 2015 e 2017, mas nem por isso podemos considerar que será rara a partir de hoje. As projeções de mudanças climáticas indicam que eventos extremos como esse serão mais comuns. Se não tomarmos as medidas necessárias, entre elas manter a vegetação e cuidar da saúde dos reservatórios, a falta d’água pode ser constante”, diz Alencar.
O Descoberto é responsável por abastecer 61% do Distrito Federal. Em janeiro de 2017, com o reservatório marcando 19% de volume útil, o governo determinou um rodízio de abastecimento entre as regiões administrativas. Atualmente, o nível está em 65,8%, após uma temporada de chuvas mais intensa do que as duas anteriores.
Além do rodízio, o governo investiu em obras de captação de água do Lago Paranoá, no Plano Piloto, e do reservatório do Corumbá, localizado em Goiás. “A ampliação da infraestrutura é a primeira ação que os governos costumam tomar. É uma solução tecnicista e imediata. Para garantir a segurança hídrica em longo prazo, especialmente em um cenário de variações intensas nas chuvas, é preciso recuperar a capacidade do solo de captar e reter a água, para garantir que a chuva seja bem aproveitada, e não desperdiçada”, afirma a pesquisadora.
A análise ecoa num estudo divulgado hoje pela Unesco, na abertura do 8º Fórum Mundial da Água, que indica a importância de soluções verdes – como recuperação de vegetação nos mananciais e manutenção de florestas – para garantir a segurança hídrica das populações.
Foi o caso de Nova York, nos Estados Unidos. Na década de 1990, o governo restringiu a ocupação do solo dentro da microbacia hidrográfica que abastece a cidade, montou um sistema de pagamento por serviços ambientais prestados pelos fazendeiros próximos e recuperou florestas. Hoje, além de o sistema abastecer cerca de 5 milhões de pessoas, ainda fornece uma das águas mais limpas entre as grandes cidades norte-americanas.
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