OC saúda conversão da presidente Dilma à agenda climática
O Observatório do Clima recebe como uma boa surpresa as declarações da presidente Dilma Rousseff, dadas no último sábado durante a Cúpula das Américas, de que mudança climática e energia serão temas prioritários do diálogo bilateral entre Brasil e Estados Unidos. Já não era sem tempo.
Como a própria presidente lembrou, o Centro-Sul do Brasil vive há pelo menos três anos um período de estiagens anormais, com falta d’água, ameaça de racionamento de energia e explosão da dengue. Mais do que uma “coincidência”, como Dilma indicara em seu pronunciamento à nação em 8 de março, isso é uma pequena amostra daquilo que os cenários de mudança climática projetam para as primeiras décadas deste século no país. Reconhecer o problema, mesmo que tardiamente, como aparentemente a presidente faz agora, é o primeiro passo para assumir a liderança na busca de sua solução.
A menção que Dilma fez à “responsabilidade” de grandes economias como o Brasil, os EUA e a China de liderar o combate ao aquecimento da Terra é uma mensagem igualmente fundamental e que merece ser saudada. No entanto, é preciso traduzir essa responsabilidade em ações práticas. E isso começa dentro de casa.
O governo brasileiro até agora tem dado poucas indicações do grau de ambição do compromisso que pretende levar à conferência do clima de Paris, no fim do ano ou de quando deverá apresentá-lo. Há relatos vagos de que seria uma meta relativa e de que seria registrada apenas em outubro, o que seria algo completamente contrário à urgência climática.
Se a presidente precisa ajuda de para definir o que seria liderança brasileira, seguem alguns parâmetros: uma meta absoluta de redução, com contribuições significativas dos setores de florestas, energia e agricultura, chegando a 2030 com emissões muito mais baixas que o atual 1,6 bilhão de toneladas de gases-estufa – abaixo de 1 bilhão de toneladas por ano. Tal compromisso traria ganhos sociais imensos num país que enfrenta estagnação econômica e que tem tantas oportunidades de cortar emissões gerando emprego e renda.
Dilma também parece ter-se dado conta do tamanho das oportunidades para o país, ao mencionar etanol e energia solar e ao antecipar “transformações” no setor de transportes. Cabe a ela e a seu governo, agora, mostrar que essa recém-adquirida preocupação com o clima e as energias renováveis é mais do que um discurso bonito.
Carlos Rittl
Secretário-executivo do Observatório do Clima
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Imagem: Agência Brasil/Roberto Stuckert Filho