OC completa 18 anos em meio a crise global dupla
Contra o coronavírus, assim como contra a mudança climática, é preciso cuidar dos mais fracos e escutar a ciência
DO OC – Era para ser um momento de celebração, mas as circunstâncias não permitem. O Observatório do Clima completa 18 anos nesta segunda-feira (23) em meio à crise humanitária global causada pela pandemia de Covid-19, que apenas começa a se abater sobre o Brasil. A catástrofe do coronavírus se soma a outra, preexistente, da mudança climática. Há ligações entre ambas, assim como lições a aprender.
Na mudança do clima e no combate à pandemia, é preciso cuidar dos mais vulneráveis e ouvir a ciência. Há mais de 30 anos os cientistas alertam para as transformações do clima da Terra com o acúmulo de gases de efeito estufa. Há 20 anos sabe-se que essas transformações afetarão desproporcionalmente os mais pobres e os mais vulneráveis, especialmente no hemisfério Sul, que já sofrem com problemas preexistentes de desenvolvimento. Esses alertas foram ignorados na maior parte do tempo pela sociedade e pelos governos, o que trouxe a humanidade à beira do caos climático.
Com o novo coronavírus a história se repete: os mais afetados são justamente a parcela mais vulnerável da população – os idosos e as pessoas com menos acesso a higiene e aos serviços de saúde. Governos que escutaram os cientistas e implementaram a tempo medidas radicais de testagem e contenção foram capazes de afastar os piores efeitos da pandemia.
Assim como a mudança do clima, o colapso social por conta da Covid-19 não é um destino inexorável. Mas vencer ambas as crises demanda ação decidida de cada cidadão, orientada pela ciência e sob liderança forte dos governos.
Alguns governantes, porém, são incapazes de humanidade, sabedoria e liderança. Insistem em negar a gravidade da crise sanitária, como sempre negaram a gravidade da crise climática, e espezinham os cientistas em vez de escutá-los. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, vem demonstrando inépcia, incúria, mesquinhez e crueldade inacreditáveis ao lidar com a Covid-19 e seus efeitos econômicos para um país que já tinha mais de 12 milhões de desempregados. A sociedade brasileira – cidadãos, empresas, governos subnacionais, imprensa, Legislativo e Judiciário – já entendeu que não pode contar com seu presidente e se move unida para mitigar a epidemia, apesar de Bolsonaro.
A recessão global causada pela Covid-19 virá acompanhada de uma redução nas emissões de gases de efeito estufa no planeta. A retomada da economia global e da brasileira será uma oportunidade de atacar também as causas da crise do clima, impulsionando a energia limpa, que gera mais empregos, e a agropecuária de baixo carbono, que aumenta a renda do produtor e causa menos pressão sobre os ecossistemas.
O Observatório do Clima, hoje composto por 50 organizações, seguirá trabalhando por um Brasil próspero, justo e saudável, e por políticas públicas que aumentem nossa resiliência diante das crises – atuais e futuras.