TASSO AZEVEDO
Embalado pelo crescente preço do petróleo, a aclamada autossuficiência e a promessa de milhões de barris de produção diária para exportação, o Brasil sonhou com um fundo soberano e o financiamento da educação bancados pelo ouro negro. Inventamos um modelo único de regime de partilha, colocamos a Petrobrás em todos os empreendimentos e a endividamos além do limite razoável. Mas não havia problema: a riqueza prometida era tanta que valia a aposta. Dezenas de cidades e vários estados se tornaram petróleo-dependentes.
Para os chatos e estraga prazeres que alertavam para os riscos de colocar todos os ovos em uma única cesta, esfregavam na cara os diversos estudos que apontavam o petróleo acima de US$ 80 por décadas contra um custo de US$ 40 a 50 no Pré-Sal.
A festa durou pouco. Nos últimos 18 meses o petróleo mergulhou de pouco mais de US$ 100 por barril para cerca de US$ 30 na ultima semana. Há excesso de produção e os preços ainda podem cair mais com o retorno do Irã ao comércio internacional.
A Petrobrás, assolada também pela corrupção, é agora a empresa mais endividada do mundo e terá que se reinventar apenas para sobreviver a ponto de mais dia menos dia ter de ser capitalizada, ou seja, receber mais capital para conseguir arcar com seus compromissos. Em outras palavras, em vez de geradora de renda passará a consumidora de recursos uma vez que, como estatal, a capitalização será paga pelos nossos impostos.
Ao contrário de outros momentos da história, a queda do preço do petróleo não está se traduzindo em aumento da demanda ou provocando queda dos investimentos em energias renováveis. De fato, muitos investidores começam a abandonar a indústria petroleira para investir em energias renováveis modernas, que no contexto de mudanças climáticas tendem a avançar de forma cada vez mais acelerada.
O Petróleo foi a principal fonte de energia do século XX, ainda é muito importante, mas tende a se tornar marginal até meados do século. Contaremos então para nossas crianças que décadas atrás extraíamos um líquido negro das profundezas da terra, transportávamos em navios para ser refinado em gigantescas fábricas e depois distribuído na forma de um líquido amarelo atéchegar aos locais de abastecimento dos motores e então gerar energia. Tão histórico como contar hoje sobre os moinhos e fábricas movidos a cavalo.
O Petróleo está mais para mico do que para o propalado “passaporte para o futuro”. O Brasil precisa virar logo esta página e focar nas energias renováveis, este sim seu grande potencial de presente e futuro.
Artigo publicado originalmente em O Globo, em 27 de janeiro de 2016