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Mudança do clima vai ao cinema em mostra que começa hoje em SP

15.06.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

DO OC

Os índios waurá, que habitam o parque do Xingu, em Mato Grosso, nunca leram um relatório do IPCC e em geral ignoram alegremente a ligação entre CO2 emitido por queima de petróleo e o balanço de radiação da Terra. Mudança climática, para eles, tem um sentido bem real: fome. Alterações causadas pelo desmatamento no entorno do parque e pelo aquecimento global têm bagunçado o calendário agrícola observado há séculos pelos waurá e outros povos da Amazônia e causado perdas de roças. O resultado é uma insegurança alimentar crescente. “Está mudando o tempo da nossa história”, diz um índio no documentário Para Onde foram as Andorinhas?, de Paulo Junqueira. O filme será exibido na 5a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, que começa hoje em São Paulo e vai até dia 29.

A mostra neste ano conta com uma centena de títulos, alguns especificamente sobre mudança climática. Na abertura será exibido O Céu e a Geleira, do francês Luc Jacquet, exibido no encerramento do Festival de Cannes em 2015 e ainda inédito no Brasil. Jacquet, diretor de A Marcha dos Pinguins (2005), transformou em documentário a vida do graciologista francês Claude Lorius, um dos pioneiros no uso do gelo profundo da Antártida para detectar variações no clima da Terra. O cientista ajudou a comprovar que a mudança climática atual não tem precedentes na história recente do planeta.

A Antártida também é tema do americano No Limite da Antártida, de Dena Seidel. O filme acompanha um cruzeiro oceanográfico de cientistas que tentam entender as mudanças na Antártida Ocidental, a massa de gelo que tem o maior potencial de causar uma elevação catastrófica no nível do mar no planeta – e cujo colapso possivelmente já foi iniciado.

No sábado (18), será exibido O Mercado da Dúvida, documentário do americano Robert Kenner inspirado no livro Merchants of Doubt, de Naomi Oreskes e Eric Conway. O filme aborda a gênese do negacionismo climático, um movimento que data da Guerra Fria e que começou com um punhado de cientistas anticomunistas que fizeram do questionamento de evidências científicas – quando estas prejudicavam interesses empresariais – um verdadeiro mercado. A obra passeia pelo negacionismo iniciado com a indústria do tabaco na década de 1950 e termina com as evidências, descobertas recentemente, de que a ExxonMobil sabia da relação entre petróleo e mudança do clima décadas atrás – e resolveu mesmo assim investir na negação dos fatos durante décadas, atrasando a ação internacional contra as mudanças climáticas.

O livro de Oreskes e Conway, publicado em 2010, tornou-se um clássico instantâneo da literatura sobre clima. O filme de Kenner é uma adaptação do livro e consegue capturar a atenção mesmo de quem leu o original. Também inédito no Brasil, traz uma mensagem pouco animadora sobre o futuro do combate às emissões de carbono.

Por fim, na lista climática há o militante Isto Muda Tudo, baseado no livro homônimo da jornalista e ativista canadense Naomi Klein. Livro e filme são uma pedrada no capitalismo atual, desferida a partir do ponto de vista de comunidades diretamente impactadas pela indústria dos combustíveis fósseis e pelas mudanças do clima.

A programação completa da mostra pode ser consultada aqui.

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