Morre o ecologista britânico James Lovelock, aos 103 anos
Conhecido por elaborar a Hipótese Gaia, cientista foi um dos pioneiros no alerta sobre a crise climática
Morreu nesta terça-feira (26), dia em que completou 103 anos, o cientista britânico James Lovelock, um dos pensadores mais influentes em meio ambiente – e um dos mais apocalípticos sobre os efeitos das mudanças climáticas. Lovelock ficou conhecido internacionalmente pela elaboração da hipótese Gaia, na década de 1970, em que descrevia a Terra como um organismo único e autorregulador. Considerado por muitos um guru ambiental, o cientista também gerou polêmica na comunidade científica pelas previsões catastróficas – algumas sem embasamento científico – sobre o futuro do planeta.
Nascido em 1919 em uma pequena cidade do interior da Inglaterra, Lovelock chegou a trabalhar em instituições britânicas, na NASA, e a ser pesquisador em universidades americanas, como Yale e Harvard. No entanto, antes dos 50 anos optou por seguir carreira como cientista independente. Foi um dos primeiros pesquisadores a alertar a população sobre a crise climática e um inventor cujas criações incluíram um detector de captura de elétrons altamente sensível para rastrear poluentes, incluindo CFCs (clorofluorocarbonos), que destroem a camada de ozônio. O cientista escreveu uma serie de best-sellers prevendo um futuro apocalíptico por causa das mudanças climáticas, como “A Vingança de Gaia”, de 2006. Anos depois, em 2012, reconheceu em uma entrevista que algumas de suas previsões haviam sido exageradas, como a de que o aquecimento global mataria 6 bilhões de pessoas até o fim deste século e de que a Europa se pareceria com o Saara em 2040.
Nos últimos anos, o cientista surpreendeu ecologistas ao defender a energia nuclear como forma de conter a crise climática. Em 2021, aos 102 anos, enquanto o Reino Unido se preparava para sediar a COP26 – a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – Lovelock publicou um artigo no jornal britânico The Guardian afirmando que a Terra pode “destruir a humanidade antes que a humanidade destrua a Terra”, e que tinha dúvidas se ainda era possível evitar uma catástrofe climática. “Há quase 60 anos, sugeri que nosso planeta se autorregulasse como um organismo vivo. Chamei isso de teoria de Gaia, e mais tarde fui acompanhado pela bióloga Lynn Margulis, que também adotou essa ideia. Ambos fomos duramente criticados por cientistas da academia (…). Nos anos seguintes, vimos o quanto a vida – especialmente a vida humana – pode afetar o meio ambiente. Dois atos genocidas – asfixia por gases de efeito estufa e o desmatamento das florestas tropicais – causaram mudanças em uma escala não vista em milhões de anos”, afirmou no artigo.
Em comunicado feito pelo Twitter, a família de Lovelock afirmou que a morte foi consequência de uma queda que o britânico sofreu há seis meses e que deteriorou sua saúde. “Para o mundo, ele era conhecido como um cientista, pioneiro e profeta do clima. Para nós, ele era um amado marido e maravilhoso pai, com uma curiosidade sem limites e um grande senso de humor”, descreveu a família.