Economista coreano é eleito presidente de painel do clima da ONU
Hoesung Lee chefiará próximo relatório do IPCC, que produz avaliações sobre mudança climática; presidente anterior renunciou após denúncia de assédio sexual; brasileira disputa uma das vice-presidências
CLAUDIO ANGELO (DO OC)
O economista sul-coreano Hoesung Lee é o novo presidente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Ele assumirá no lugar do indiano Rajendra Pachauri, que presidia o IPCC desde 2002 e renunciou neste ano após denúncias de assédio sexual.
Lee, 69, ocupa atualmente uma das vice-presidências do painel do clima da ONU. Professor de economia da Mudança Climática na Universidade da Coreia do Sul, em Seul, ele atua no IPCC desde 1992, quando foi co-presidente do chamado Grupo de Trabalho III – que lida com a mitigação das mudanças climáticas.
Foi também um dos autores principais do relatório-síntese do AR5 (Quinto Relatório de Avaliação), a mais recente compilação do estado da arte do conhecimento sobre a mudança do clima, publicado pelo IPCC entre 2013 e 2014. Na juventude, nos EUA, trabalhou na Exxon, a petroleira que durante anos financiou o negacionismo sobre as mudanças climáticas.
O coreano venceu no segundo turno o belga Jean-Pascal van Ypersele, por 78 votos a 56, numa campanha que incluiu até a criação de um “hotsite” pelo governo de Seul para louvar os méritos de seu candidato.
Lee também tem um apoiador de peso fora da Coreia: o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, seu conterrâneo. Ele é membro do conselho do Global Green Growth Institute, um think tank criado por Ban em seu país.
No total, seis candidatos disputavam a vaga, numa eleição que acontece em Dubrovnik, Croácia, durante a 42a reunião geral do IPCC.
“Ele era efetivamente o único candidato de um país em desenvolvimento”, disse ao OC Suzana Kahn, professora da Coppe-UFRJ e membro do IPCC, que participa da reunião na Croácia. Um outro candidato, Ogunlade Davidson, de Serra Leoa, não esteve presente à votação por não ter conseguido visto.
Embora a Coreia do Sul seja um país desenvolvido, do ponto de vista da Convenção do Clima ela é tratada como nação emergente, em desenvolvimento (daí não ter apresentado uma meta absoluta de corte de emissões para o acordo de Paris, algo que se exige dos países ricos).
Segundo Kahn, na véspera da eleição Lee fez um discurso forte. “Ele se colocou como representante do mundo todo, já que a Coreia passou por tudo. Ele vivenciou pobreza e prosperidade. Acho que passou uma ideia de que pode transformar todos nós em uma Coreia do Sul.”
Segundo Lee afirmou em comunicado divulgado pelo governo coreano, sua atuação terá entre as prioridades o aumento da participação de especialistas de países em desenvolvimento, o aumento da neutralidade e uma atenção especial às interações entre o combate à mudança do clima e a criação de empregos, o acesso à energia e o alívio da pobreza.
“A próxima fase do nosso trabalho visa aumentar nossa compreensão dos impactos regionais, especialmente nos países em desenvolvimento, e melhorar a forma como nos comunicamos com o público”, afirmou Lee, em comunicado.
A eleição, agora, volta-se às vagas de vice-presidente. São 51 candidatos, inclusive uma brasileira: Thelma Krug, pesquisadora do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que atualmente ocupa a presidência da Força-Tarefa para Inventários do IPCC.