Declaração “Fé no Clima” será entregue à ministra Izabella Teixeira
A Declaração e Compromisso Fé no Clima – documento assinado por representantes de 12 comunidades religiosas que sintetiza suas percepções e aspirações comuns sobre as mudanças climáticas – será entregue à Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira durante evento “A Encíclica Louvado Sejas, do Papa Francisco, e as Ciências Sociais na PUC-RIO” nesta segunda, 14 de setembro. A entrega ocorre duas semanas antes da Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que será realizada entre os dias 25 e 27 de setembro em Nova York e onde está previsto o anúncio das INDCs brasileira, conforme anunciado pela presidente Dilma Rousseff durante a visita da chanceler Angela Merkel ao Brasil em agosto.
As INDCs – ou “contribuições nacionalmente determinadas pretendidas” – são as metas que cada país deve apresentar antes da conferência do clima da ONU no final deste ano, a CoP21, quando deve ser fechado um acordo climático global para interromper o aumento que vem sendo registrado na temperatura média do planeta. Ao serem somadas, as contribuições de todos os países precisam gerar um corte nas emissões dos gases causadores do efeito estufa suficiente para evitar um aquecimento global maior que dois graus centígrados.
“O aquecimento global é visto por muitos como um dos maiores desafios atuais a serem enfrentados pela humanidade e, como tal, tem atraído cada vez mais a atenção das diversas religiões”, explica Maria Rita Villela, coordenadora do ISER (Instituto de Estudos da religião – www.iser.org.br), que coordenou, em parceria com o GIP (Gestão de Interesse Público – www.gip.net.br), a iniciativa de reunir 12 diferentes comunidades religiosas para debater o tema e chegar a um denominador comum. O documento resultante (ver íntegra do texto ao final do release) inclui uma agenda básica para que o governo assuma metas ambiciosas na Conferência do Clima (COP 21).
Na Declaração e Compromisso Fé no Clima, os lideres religiosos pedem: 1) a redução substancial das emissões de gases com efeito de estufa compatível com a necessidade de limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius até 2100; 2) a preservação da biodiversidade em todos os biomas; 3) o controle do desmatamento; 4) ações de adaptação em benefício das populações mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas; 5) a garantia de preservação de tradições culturais e modos de vida; 6) o combate à fome e à indignidade, e 7) a adoção preferencial de fontes de energia renováveis e de tecnologias limpas.
“É importante lembrar que este é um tema diretamente relacionado com a justiça social, pois os efeitos das mudanças climáticas são mais perversos para as populações mais empobrecidas e em situação de risco”, destaca Maria Rita Villela. “Por isso as lideranças religiosas estão enviando, pela Declaração e Compromisso Fé no Clima , uma mensagem clara para nosso governo: é fundamental que o Brasil tenha a ambição de assumir uma postura de protagonismo nas negociações climáticas para que o acordo climático global que se espera para o final deste ano seja realmente válido para quem interessa e não se perca a intenção de combater profundas desigualdades socioeconômicas que assolam o país e o mundo nos dias atuais”, completa.
A entrega para a Ministra Izabella Teixeira será feita por representantes do ISER (Instituto de Estudos da Religião – www.iser.org.br), após o encontro “A Encíclica Laudato Si do Papa Francisco e as Ciências Sociais na PUC-Rio”, apresentado por Padre Josafá Carlos de Siqueira S.J (Igreja Católica), um dos signatários da Declaração e Compromisso Fé no Clima, que conta também com a adesão de André Trigueiro (espírita e jornalista), Ariovaldo Ramos (pastor evangélico), Mãe Beata de Yemanjá (Iyalorixá do Ilê Omi Ojuarô), Dolores (Inkaruna) Ayay Chilón, professor de Quechua, da tradição Andina, Mãe Flávia Pinto (umbandista), Rv. Fletcher Harper (pastor episcopal norte americano), Kola Abimbola (Babalorixá Yorubá e acadêmico nigeriano), Léo Yawabane (tradição indígena Huni Kuin, do Acre), Lama Padma Samten (monje budista), e Timóteo Carriker (pastor presbiteriano).
O documento será também encaminhado ao Papa Francisco, como forma de retorno à encíclica Laudato Si – primeiro documento oficial do Vaticano a tratar do meio ambiente e abordar a questão das mudanças climáticas – ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que preside o C-40, que reúne líderes das grandes cidades do mundo para decidir e adotar medidas contra as mudanças climáticas, ao governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e à presidente Dilma Rousseff.
A Declaração e Compromisso Fé no Clima é resultado da iniciativa Fé no Clima, promovida pelo ISER e o GIP, que busca criar mais espaço para comunidades religiosas de tradições diversas interagirem e evidenciarem suas próprias experiências de engajamento com o tema das mudanças climáticas. O envolvimento do ISER com o tema Mudanças Climáticas teve início em 2008, quando o Instituto realizou uma pesquisa de opinião intitulada “O que as lideranças brasileiras pensam sobre mudanças climáticas e o engajamento do Brasil?”, reunindo percepções de 120 lideranças de diversos segmentos da sociedade brasileira (mídia, congresso, empresas, academia, ONGs e governo) especialistas em temas correlatos (energia, agronegócio, florestas e educação). Em 2009, foi a vez de escutarem o que lideranças religiosas tinham a dizer sobre o tema. Como parte daquela iniciativa, o ISER organizou um encontro multireligioso no qual os participantes compartilharam e conheceram iniciativas de adaptação e educação em curso no Brasil (assista na íntegra).
Além do encaminhamento da Declaração e Compromisso Fé no Clima para o governo brasileiro e o Vaticano, o projeto inclui um novo debate no Encontro Anual Aldeia Sagrada, que será realizado de 1 a 3 de outubro no Rio de Janeiro.