TASSO AZEVEDO
Publicado originalmente em O GLOBO – 30.12.2015
2015 foi o ano mais quente já registrado no planeta, com a temperatura media ultrapassando 1ºC acima da média do período pré-industrial, coincidindo com o aumento da concentração de carbono na atmosfera ultrapassando pela primeira vez os 400 ppm (partes por milhão) e um forte fenômeno El Niño.
Sob esta forte pressão foi aprovado em Paris o novo Acordo Climático global com instrumentos suficientes para, nos próximos anos, colocar o mundo numa rota de desenvolvimento que permita limitarmos o aquecimento global – e as tragédias derivadas dele – bem abaixo de 2oC e se possível 1,5oC. Para que isso seja possível teremos promover um completo phase-out dos combustíveis fósseis até meados do século, além de outras ações como zerar o desmatamento.
Os compromissos voluntários assumidos pelos países durante a preparação do novo acordo são completamente insuficientes para atingir este objetivo, mas o sistema de revisão quinquenal das metas começando em 2020 abre a oportunidade de ampliar os compromissos na intensidade necessária.
Sem tempo para esperar, o mundo real se movimenta mais rápido. O preço do petróleo atingiu seu valor mais baixo em dez anos, o preço do barril caiu de mais de US$ 100 em meados de 2014 para para os atuais US$ 36 e ao invés de atrair investimentos e reduzir a atratividade de energias renováveis, aconteceu o inverso. Começou um processo de desinvestimento no setor. Vários fundos de investimento anunciaram em 2105 políticas de eliminação programada da industria de combustíveis fósseis.
O investimento em energia renováveis modernas (ex. solar, eólica) deve superar US$ 300 bi, quase o dobro de 5 anos atrás. O aumento de capacidade instalada de solar e eólica deve superar a marca de 100 GW instalados em um ano, ou quase a capacidade instalada de geração hidroelétrica no Brasil. A energia solar deve superar em um ano todas as outras fontes em ampliação da capacidade instalada para geração de energia elétrica.
Baterias romperam a barreira dos US$ 300 por kWh, metade do valor de cinco anos atrás. A viabilidade dos veículos elétricos já é real em vários segmentos (na Inglaterra os carros elétricos representaram quase 5% da venda de veículos novos em 2015) e especialistas apontam que ao chegar em US$ 150 por kWh as baterias ficam competitivas para utilização em larga escala, não só para automóveis e ônibus, mas também para utilização em prédios e residências.
Lembraremos de 2015 como o ano em que a mudança começou a transbordar de vez.
Tasso Azevedo é engenheiro florestal, consultor e empreendedor social em sustentabilidade, floresta e clima. Coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG)