Brasil lidera (de novo) ranking global de destruição de florestas
País foi responsável por quase metade da perda de vegetação primária do mundo tropical em 2021
DO OC – O Brasil fechou 2021 se mantendo líder absoluto no ranking mundial de destruição de florestas tropicais, sendo responsável por mais de 41% da perda de vegetação primaria do planeta no ano passado. O dado foi divulgado nesta quinta-feira (28) pela plataforma de monitoramento Global Forest Watch (GFW), que elabora relatórios anuais desde 2002. O documento mais recente mostra ainda que o país vem aumentando sua participação na porcentagem mundial na supressão de florestas por três anos consecutivos, após Jair Bolsonaro assumir o poder: em 2019 o país foi responsável por 36,2% e, em 2020, por 40,4%. Durante o governo atual, o desmatamento aumentou 76%.
De acordo com a GFW, o Brasil, que detém cerca de um terço das florestas tropicais remanescentes do mundo, tem mantido taxas de perda de vegetação primária acima de 1 milhão de hectares desde 2016, alcançando a marca de 1,5 milhão de hectares de somente no ano passado. Fabíola Zerbini, diretora de Florestas, Agricultura e Uso do Solo do WRI (World Resources Institute) Brasil, explica que esse padrão de destruição “é especialmente preocupante pois novas evidências revelam que a floresta amazônica está perdendo resiliência, estando mais perto de um ponto de inflexão do que se pensava anteriormente”.
Em março deste ano, um estudo publicado no periódico Nature Climate Change mostrou que mais de 75% da Amazônia está de fato perdendo a capacidade de se recuperar de períodos de seca, causados pelas mudanças climáticas, e do desmatamento. O resultado, apontou a pesquisa, são danos severos ao bioma, o que agrava o aquecimento da terra e deixa a região mais próxima desse ponto de virada (tipping point), após o qual a floresta começa a morrer maciçamente.
O relatório divulgado hoje pela GFW, que pela primeira vez fez uma diferenciação entre a perda de florestas causada ou não por fogo, também mostrou que, no caso do Brasil, nem mesmo a redução dos focos de queimadas na Amazônia e Pantanal em 2021 alterou a tendência de aumento da destruição. As perdas não relacionadas ao fogo – que no Brasil são mais frequentemente associadas ao desmatamento para especulação com terras e agropecuária – aumentaram 9% entre 2020 e 2021.
Isso fica evidenciado pela distribuição das áreas de perda de florestas primárias, que mostra uma expansão das regiões mais críticas para além do chamado Arco do Desmatamento. Muitos novos focos de destruição abrangem clareiras em grande escala – provavelmente para pastagens de gado – ao longo de estradas existentes, como a BR-319 (Porto Velho-Manaus), que o governo Bolsonaro tenta pavimentar, apesar de condicionantes impostas há mais de uma década pelo Ministério do Meio Ambiente.
“Historicamente, vimos um decréscimo significativo do desmatamento no Brasil no início do século, o que estava relacionado com uma presença forte do Estado no combate à destruição das florestas e também a uma combinação de ações entre os setores público e privado. Atualmente, no entanto, o que vemos é um gráfico que segue em tendência de aumento”, disse Zerbini em entrevista coletiva.
A especialista destacou, ainda, os dados positivos da Indonésia, país que registrou redução das taxas de perda florestal pelo quinto ano consecutivo, indicando que, diferentemente do que acontece atualmente no Brasil, políticas públicas do governo e comprometimento do setor privado estão surtindo efeito.
Globalmente, o GFW identificou a perda de 3,75 milhões de hectares de florestas tropicais primárias no mundo. Quem ocupou o distante segundo lugar no ranking de 2021 foi a República Democrática do Congo, com a destruição de 500 mil hectares. (JAQUELINE SORDI)