DO OC – Um alerta que vem sendo feito há anos por especialistas, de que o aquecimento global está aumentando a frequência e a intensidade de furacões, foi reforçado nesta quarta-feira (11) por um novo estudo publicado na revista revista Nature. A partir de uma análise sobre a ação dos ciclones tropicais nas últimas seis décadas, uma dupla de especialistas da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, identificou que os furacões estão perdendo o “freio” que faz com que sua força caia rapidamente no momento em que eles atingem a terra. Esse fenômeno está diretamente relacionado ao aumento das temperaturas da superfície oceânica. Como consequência, o potencial devastador dos furacões está cada vez maior.
“Nossa pesquisa sugere que, conforme o clima vai esquentando, o declínio da intensidade dos furacões vai ficando cada vez mais lento (ao chegar na superfície do continente) e, consequentemente, regiões mais para o interior enfrentarão a ira de tempestades cada vez mais fortes”, explica Pinaki Chakraborty, um dos autores do estudo. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram dados históricos da intensidade de tempestades que atingiram a América do Norte entre 1967 e 2018. Eles avaliaram o grau de diminuição da intensidade dos eventos climáticos nas 24h após atingirem a terra e encontraram uma mudança significativa conforme o registro dos termômetros. Ao avaliar o aumento da temperatura média da superfície das águas do Golfo do México e oeste do Caribe, identificaram que a tendência de aquecimento estava alinhada com o grau de destruição das tempestades tropicais.
“Deixe-me ilustrar com um exemplo: considere dois furações típicos. Um deles, de categoria 4, alcança a terra 50 anos atrás com intensidade de 70m/s. Em um dia, ele viaja 430 km para o interior e sua intensidade diminui para 17 m/s. Outro furacão com a mesma intensidade atinge a costa em 2018. Em 24h, ele viaja os mesmos 430km para o interior, mas agora sua intensidade diminui para 34m/s, o que é considerado um furacão de categoria 1”, exemplifica Chakraborty.
A explicação para essa tendência é que a principal fonte de energia para um ciclone tropical é a evaporação da água oceânica que está no centro do evento climático, e esta é rapidamente eliminada quando a tempestade chega ao continente. No entanto, existe uma umidade residual, que fornece uma fonte secundária de energia e é capaz de manter a intensidade da tempestade por mais tempo. Esta tende a aumentar conforme a temperatura das águas aumenta.
Climatologista do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Francisco Aquino aponta que, além da maior intensidade dos eventos climáticos, o aquecimento das águas influi também na quantidade de tempestades tropicais que se formam e atingem a terra, o que ficou evidente no início deste mês, com a formação do furacão Eta, a 29º tempestade climática da temporada. Além de deixar um rastro de devastação e mais de 200 mortos e desaparecidos por diversos países da América Central, o furação agora avança para os Estados Unidos e consagra o ano de 2020 com mais um recorde:
“Nos últimos 140 anos de monitoramento de ciclones no Atlântico Norte, esta é a temporada com maior número de tempestades com nome (tempestades tropicais que evoluem para um furacão). Com o Eta, este ano supera 2005, que havia sido recorde até então”, afirma.
Ainda de acordo com o pesquisador, a tendência para os próximos anos não é nada animadora. “Mesmo se a partir da semana que vem todos os países passassem a cumprir rigorosamente as metas do Acordo de Paris, não iríamos observar nenhuma diferença na tendência dos furacões pelos próximos 30 anos, já que demora muito tempo para que a energia armazenada nos oceanos possa ser dissipada”, explica. Para Chakraborty, o estudo serve como um alerta principalmente para as zonas interioranas dos locais vulneráveis, já que, pelo menos nas próximas décadas, eles estarão cada vez mais suscetíveis às fortes tempestades. (JAQUELINE SORDI)